segunda-feira, 23 de março de 2009

Arquitetura Global do texto

GÊNERO DE TEXTO: OFÍCIO



C – A ARQUITETURA GLOBAL DO TEXTO.

Tendo em vista ser o ofício um gênero de texto similar à carta comercial, sua estrutura geral consistirá em elementos textuais e paratextuais, em sua maioria, comuns a ambos os gêneros de texto. De fato, num ofício a análise dos elementos que o compõe é de suma importância, e por trata-se de correspondência amplamente usada por entidades públicas, tais elementos, que precedem e antecedem ao texto (timbre, logotipo, número, local, vocativo, endereço, assinatura, etc) dão ao mesmo caráter formal, bem como de documento de inteiro teor e fé pública. Na tabela a seguir organizamos todos os elementos textuais e paratextuais que compõem o nosso gênero de texto em questão, cujo intuito é possibilitar a identificação destes pelo leitor, além de uma análise crítica. Segue em anexo, também, o gênero de texto ofício usado como exemplo para estudo neste trabalho.

D – O PROPÓSITO COMUNICATIVO E ANÁLISE DE CADA ELEMENTO CONSTITUTIVO DO GÊNERO DE TEXTO.
Sabe-se que os membros duma comunidade sociodiscursiva empresarial lavram ofícios da maneira mais conveniente possível, no sentido de consubstanciar o interacionismo sociodiscursivo. Outrossim, organizam retoricamente os textos para melhor atender às expectativas numa comunicação verbal escrita. Os recursos textuais, paratextuais, lingüístico-gramaticais e formais utilizados pelos membros da comunidade sociodiscursiva na redação do ofício são adequados, de modo que inserem o texto produzido nos hábitos do meio sociolingüístico, cuja repercussão dá-se no momento em que os ofícios circulam-se entre entidades públicas da administração direta e indireta.
Entretanto, nem todo ofício observa esses aspectos, e, por isso, às vezes, não conseguem alcançar o seu propósito ou tal propósito é alcançado, na melhor das hipóteses, contudo a imagem do remetente fica afetada. No ofício em anexo, observa-se que o remetente se preocupou em utilizar todos os recursos de um gênero de texto, afinal, se faz necessário consubstanciar o propósito comunicativo, o que, de fato, somente é obtido a partir do momento em que a mensagem é entendida pelo destinatário,e, posteriormente respondida. Neste caso, a comunicação é estabelecida através da utilização dos recursos de linguagem adequados ao contexto em que está inserida.
Como admoestado anteriormente, a carta comercial (ou empresarial) tem sido considerada o protótipo do ofício, pois ambos são correspondências empresariais, e, portanto, guardam certa similaridade entre si. Assim, a análise dos elementos componentes do ofício faz-se semelhante a da carta comercial, uma vez que tem quase os mesmos elementos na arquitetura global do texto.
Os elementos textuais do ofício representam a essência do texto global, pois são responsáveis pelos propósitos comunicativos principais. Para o ofício em epígrafe, abrangem apenas o seu único parágrafo do enunciado textual. Neste encontramos o início, o desenvolvimento, e o fecho, não apresentando parágrafo de introdução, apenas início do texto tratando do assunto objeto de discussão. Temos um início e uma continuação seguidos de fecho, assinatura e fórmula de respeito.
O texto, contendo o propósito comunicativo, constitui a verdadeira mensagem, o enunciado central, por isso permite o entendimento da mensagem pelo receptor. Informar que o profissional com diploma de outra jurisdição pretende obter registro no CRCBA, é o enunciado central do ofício em anexo, ou seja, o que realmente se deseja é saber se existem restrições ao pedido de registro, além de certificar-se de que o profissional encontra-se apto ao pleito. Vê-se, portanto, que a essência continua sendo o texto, com suas repercussões enunciativas, pragmáticas, semânticas e sua organização retórica.
Deve-se, também, ressaltar a existência de demais elementos imprescindíveis para a formação geral dos sentidos do texto global, justificando, assim a agregação outros elementos ao texto do ofício. Estes são os elementos paratextuais que em conjunto auxiliam a identificação do ofício no tempo e espaço, bem como para defini-lo enunciativamente, identificando enunciador e destinatário, no sentido de colocá-los numa interação sociodiscursiva, amiúde, otimizando a mensagem, situá-lo em certo registro lingüístico, etc. No ofício em anexo, dentre os elementos paratextuais pré-textuais tem-se o timbre com elementos que identificam o emitente da mensagem (logomarca do CRCBA, símbolo desta entidade de classe com menção da razão social; localizadores com todos dados concernentes ao endereço da autarquia CRCBA, bem como elementos de contato, estes últimos para possíveis contatos no sentido de tornar a comunicação mais eficiente e otimizada. O local e data nos fornecem uma idéia em relação ao dia em que foi redigido e em que cidade, otimizando a comunicação, uma vez que o destinatário poderá se situar no tempo e espaço, permitindo identificar se o envio do ofício foi tempestivo ou não, ou seja, se foi enviado no período adequado, dentro do prazo estimado para que o pedido de registro não seja indeferido, devido a intempestividade. O número do ofício retrata sua ordenação crescente, para fins de arquivamento, facilitando consultas futuras em pastas adequadas nas quais devem estar em locais de fácil acesso. Ressalta-se que o timbre com logomarca está centralizado na página, tal como um cabeçalho, justamente para chamar a atenção do destinatário, informar, também, a entidade que está enviando, enquanto que o local e data encontram-se alinhados à direita e o número do ofício alinhado à esquerda, como padrão utilizado na redação de ofício pelo CRCBA, contudo não quer dizer que se fosse lavrado de outra maneira estaria errado, conquanto que a data e o local aparecerem como primeiros elementos logo após o timbre, independente do alinhamento. Na arquitetura global do ofício em questão tal organização representa o ponto chave para começar a comunicação, portanto, o timbre e logomarca indicam por onde iniciar a sua leitura, conseqüentemente, devem estimular o interesse do destinatário pelo conteúdo da mensagem. O elemento vocativo chama atenção do receptor, admoesta este para o enunciado central, atribuindo-lhe o dever de interpretar a mensagem, bem como o direcionamento específico.
Já no que se refere aos elementos paratextuais pós-textuais, pode-se observar no presente ofício a frase de fechamento, com o intuito de terminar de forma cordial a mensagem central, seguido da fórmula de respeito (atenciosamente) cujo intuito é se despedir do destinatário, com tratamento o mais formal possível, tendo em vista ser caráter fundamental dum ofício (formalidade); e, por fim, a assinatura do emitente, que contribuirá para a credibilidade deste gênero de texto, também imprescindível, por tratar-se de assuntos pertinentes à esfera pública e para ter validade perante terceiros.
Dos elementos paralingüísticos observa-se a existência de fontes diferenciadas de destaques em negrito, contribuindo tanto na formatação do texto como também na formação de seu sentido. O nome do profissional em negrito realça sua importância no texto global, já que exerce significativo papel na constituição do sentido do texto.
Na elaboração de um ofício deve-se observar os elementos textuais e paratextuais analisados anteriormente, visto que contribuem não só para o enriquecimento duma comunicação verbal escrita, como também para a organização geral do texto, pois o propósito comunicativo deve ser alcançado. Tais elementos no texto são essenciais no sentido de fornecer ao leitor uma mensagem com sentido e nexo, coerência e coesão respectivamente. Assim, um texto para se entendido deve conter de forma adequada todos os elementos imprescindíveis à concretização da mensagem. Portanto, os elementos do ofício em análise são de suma importância em seu texto, conseqüentemente os membros de sua comunidade sociodiscursiva devem usá-los como ferramentas para a manifestação de uma comunicação verbal escrita eficaz.

Interacionismo sociodiscursivo e as quatro leis de Grice

GÊNERO DE TEXTO: OFÍCIO

A – INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO.

O ofício é um gênero de texto e, portanto, observa-se o interacionismo sociodiscursivo, visto que permite trocas entre os membros de determinada esfera da atividade humana, tais como as comunicações via ofício existentes nos órgãos públicos. É uma tendência na atualidade conceder ao texto posição hegemônica entre as temáticas lingüísticas, o ofício por ser um texto, é por conseguinte, visto como meio de otimizar o interacionismo sociodiscursivo. De acordo com a abordagem acima descrita, um ofício organiza a língua como um discurso, viabilizando as interações entre emissor e receptor numa mensagem.
De fato, a formalização da mensagem através de um ofício, não só permite o sociodiscurso interacionista, como também admoesta para o fato de a língua ser uma manifestação da conduta humana, pois qualquer unidade lingüística transmite uma informação, desde o fonema ao texto. A utilização da língua na forma culta, dá ao oficio um caráter formal, possibilitando a concretização da mensagem em um código convencionado pelos membros de uma comunidade sociodiscursiva. As unidades menores que compõem o texto de um ofício, tais como o logotipo, endereço, etc têm importância e funções definidas, como exemplos destas unidades tem-se os elementos paralinguísticos e paratextuais, a frase, as unidades léxicas e os conectores.
A interação social existente no ofício realiza-se por meio de textos coesos e coerentes, não se concretiza, como vimos, através de palavras, ou frases. São os textos, portanto, que se agrupam conforme suas finalidades, suas características, e seguem os usos e costumes já concretizados na esfera social em que estão inseridos. Redigir um ofício é aprender a estruturar enunciados, ou seja, organizar orações e palavras isoladas, construindo cada um dos enunciados, constituindo a comunicação verbal escrita.
Todos os elementos componentes do ofício são imprescindíveis para o seu entendimento, assim a interação sociodiscursiva somente se efetiva quando estes elementos forem utilizados de forma apropriada e com finalidade prevista, para que o texto não tenha uma leitura demasiadamente cansativa. Por fim, o ofício permite que a comunicação entre os membros da comunidade sociodiscursiva se realize, o discurso seja entendido e sua mensagem encaminhada ao destinatário pela via mais adequada, pois somente assim este gênero de texto cumprirá seu objetivo social.

B – AS QUATRO LEIS DE GRICE.

Em um oficio há, de fato, uma interação verbal, pois existem normas a serem seguidas pelos interlocutores. O enunciado de um oficio estará de acordo com a primeira lei de Grice (lei da pertinência) quando o leitor concordar com a informação veiculada, ou seja, a partir do momento em que este encontrar-se à disposição do público ao qual se destina. Observa-se que o oficio sempre será pertinente, quando em seu texto haver um conteúdo adequado ou pertinente à situação, e tratar-se de um assunto já conhecido pelo receptor. É, portanto, adequado não somente o gênero ofício, mas também a forma como o texto foi elaborado, caso a comunicação se efetue entre entidades públicas. O ofício deve conter um texto, cujo conteúdo admoeste ao receptor para assuntos já conhecidos, em andamento, ou coerente com o contexto no qual esteja inserido.
Pela lei da sinceridade, nota-se que o ofício deve conter, em seu texto, a veiculação de atos de fala viáveis, cabíveis e sinceros, e sob um contexto adequado. Deve conter, também, ato sincero e possível de realização; seu texto permite que a comunicação se realize num nível de linguagem esperada, pelo meio adequado. A adequação à situação existente entre os membros da comunidade discursiva dá ao ofício um valor entre os meios de comunicação dos órgãos público, afinal o destinatário da mensagem espera que o enunciador transmita uma mensagem possível de ser realizada, e, sobretudo, respondida.
A finalidade do ofício é trocar informações veiculadas entre órgãos públicos, e neste caso, a terceira lei de Grice (lei da informatividade) prevê que jamais será objeto do ofício um discurso de faz-de-contas e fingido. O propósito comunicativo deste gênero de texto não é a transmissão duma mensagem lúdica, humorística, literária ou publicitária, mas sim informar. Ao receber um ofício, de imediato o destinatário, dentro do contexto da interação sociodiscursiva, questiona-se sobre o que há de novo, e, conseqüentemente tem-se o cumprimento da lei da informatividade, visto que o intuito é transmitir fatos não conhecidos pelo receptor, caso a mensagem contenha um texto de caráter informativo, como é o caso do gênero ofício. Tal lei é de suma importância e válida para o ofício, principalmente na tomada de decisões por parte da gestão pública, direcionando as ações e definindo prioridades, no que se diz respeito às políticas públicas, tais como educação, saúde, infra-estrutura, saneamento básico, etc.
Pela lei da exaustividade um ofício deve fornecer a informação máxima, sem rodeios e tampouco deve esconder uma informação importante. A mensagem do ofício será importante no sentido de permitir ao destinatário a distinção entre a boa formação da má-formação dos enunciados, estas últimas são supérfluas e devem ser evitadas. Os membros da comunidade sociodiscursiva num ofício requerem de um lado a transmissão duma mensagem concisa, objetiva e informativa, por parte do remetente, e de outro um destinatário com o intuito de receber uma mensagem, cujo conteúdo seja exaustivo ou não a depender da informação transmitida e sua finalidade. Assim, ao se redigir um ofício devemos se ater ao seu texto, no sentido de como transmitir sua mensagem, ou seja, deve responder às perguntas básicas para o qual foi redigido, desempenhando seu papel social. Vê-se, portanto, que mensagens de caráter supérfluos não não são objeto de uso na redação de ofícios, tendo em vista serem desnecessárias, não acrescentariam nada ao texto, apenas exaustividade; entretanto ofícios com mensagens cujo conteúdo oculte informações inerentes ao entendimento do discurso interacionista carecem de exaustividade, e acabam por tornar a comunicação via ofício deficiente, ou até mesmo, não concretizada.